13 Agosto/2018
Ser amigo de um cadeirante é compreender, de fato, que o mundo possui muito mais desafios do que imaginamos.
É educar o seu cérebro para uma mente muito mais inclusiva. É entender que se o seu amigo cadeirante não consegue frequentar determinado local, ali não é bom o suficiente, mesmo quando você está falando da sua própria casa. É se descabelar quando escuta a palavra "escara" porque só quem tem um amigo cadeirante, de verdade, entende o real significado dessa palavra. É saber que espasmos não representam um ataque cardíaco. É odiar passeios desnivelados, obstáculos e tapetes.
Ser amigo de um cadeirante é aprender o porquê de você não poder estacionar nas vagas reservadas para pessoas com deficiência nem por um minuto. Ah, é inclusive aprender porque o termo correto é: pessoa com deficiência.
É aperfeiçoar todos os dias a arte da paciência: entenda, ele levará o triplo do tempo para entrar e sair do carro, e nesse momento você aprenderá o prazer de poder ajudá-lo.
Ser amigo de um cadeirante é aprender que você não precisa falar com voz de bebê e nem cheia de pudores, pisando em ovos, muito menos que tem que ficar rindo o tempo todo para ele. Você pode ser quem você é. Pode, se necessário, chorar, gritar, brigar, "pedir colo", criticar e tudo mais...é incrível! Eles não quebram pelo simples fato de vocês terem uma relação normal. E acreditem... muitas vezes eles possuem um senso de humor bem mais aguçado que o seu.
Ser amigo de um cadeirante é pisotear todos os dias sobre seus próprios preconceitos. É tornar seu amigo um "objeto" de estudo porque você quer saber dele todas as dúvidas que todo mundo tem.
É correr desesperadamente até ele, para contar todas as vezes que você: ver, encontrar, conhecer, conversar com qualquer deficiente. É contar para qualquer pessoa nova que você conheça, que você tem um amigo cadeirante.
É saber de todos os eventos da cidade que abordem sobre a dignidade da pessoa com deficiência e se tornar um "consultor" sobre o assunto porque todo mundo quer tirar dúvidas com você.
É comprar briga. É trabalhar o tempo inteiro com logísticas.
Ser amigo de cadeirante é andar com seu amigo por aí e por um minuto analisar o mundo ao seu redor e se perguntar: "Por que estão todos encarando?", já que na maior parte do tempo, até mesmo você esquece a deficiência dele.
Ser amigo de cadeirante é percorrer a linha tênue da autonomia e da dependência. É pedir constantemente:
"Me conta de novo a sua história?", pelo simples fato de ser a história mais emocionante que você conhece.
É se emocionar, com a alma, em todas as conquistas dele. Ser amiga de um cadeirante é, todos os dias, ter um choque de realidade ao reclamar da sua vida e se lembrar das inúmeras dificuldades que ele suporta.
É ter um exemplo. É agradecer a Deus todos os dias, pelos mais variados motivos, pela vida dele.
Por: Felipe De Souza Lima