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Sobre o entendimento da pessoa com deficiência intelectual e/ou múltipla acerca do preconceito

05 de Novembro 2018

 

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No meu primeiro dia de trabalho nesta escola especializada, ao ser apresentada às turmas, um aluno adulto me perguntou: "Sua mãe sabe que você vai trabalhar aqui?".

Respondi que sim. E ele voltou a me perguntar: "E o que ela pensa de você trabalhar com gente igual a gente? Ela não achou ruim?"

 

Através destas perguntas podemos perceber que, ao contrário do que muitos dizem (“Pode falar e olhar porque ele não entende nada mesmo, coitado!”), as pessoas com deficiência intelectual e/ou múltipla sabem que são discriminadas. Por isso, sempre chamo a atenção para que todo cidadão esteja atento ao olhar para elas. Seja deficiência física, sensorial, múltipla ou intelectual.

 

Todos recebem os olhares preconceituosos com muita dor. Cuidado com seu olhar! Você pode ferir alguém que não escolheu nascer diferente do padrão que a sociedade impõe como "normal", ou com uma deficiência surgida após o seu nascimento.

 

Depois de mais de uma década trabalhando nesta escola, uma turma de adultos começou a me perguntar o motivo de possuírem dificuldades para realizar algumas atividades. Perguntavam constantemente: "Sandra, por que eu sou assim? Eu nasci assim? O que aconteceu comigo?".

 

Como vi que as perguntas se repetiam semana após semana, questionei para toda a turma: "Vocês topam conversar um dia sobre os motivos de vocês terem comprometimento? Posso explicar para cada um?". Me responderam um "Pode" sorrindo aliviados, como que dizendo: "Enfim, vou entender por que sou assim."

 

Perguntei se queriam que eu contasse os motivos "no particular" (como costumam falar), ou se poderia ser durante uma aula, todos juntos, conversando sobre o assunto. Pediram-me que estivessem todos juntos porque queriam entender os colegas também.

 

Faço aqui um parêntese

Interessante, não? Eles queriam conhecer melhor a história dos colegas para aprender. Prezado leitor, é um modo de pensar diferente da maior parte da sociedade, observaram?

 

Retomando...

Confesso que demorei para ter coragem de fazer as perguntas acima. Relutei e me questionei muito para saber que atitude tomar. Não só por questões éticas de outros colegas saberem o que causou o comprometimento do colega de turma, mas principalmente, por medo de como estas informações seriam processadas emocionalmente por cada aluno ao saber da sua história. Vivi semanas de angústia profissional e pessoal porque eles não esqueciam os questionamentos. Pedi orientação a Deus como costumo fazer em momentos delicados da minha vida.

 

Será que eu tinha o direito de ser a pessoa que daria esta explicação? Seria bom fornecer estas informações? Enfim, após semanas, optei pelo “sim, eu conversaria a respeito devido à grande insistência por parte deles”.

 

Estudei antecipadamente cada caso com mais detalhes para buscar uma linguagem adequada e poupá-los de fatos tristes como saber que a mãe era dependente química e quase não se alimentou durante a gestação, ou as tentativas de aborto mal sucedidas que desencadearam deficiências para o feto.

 

E, assim, fizemos. Num horário de aula, trocamos as atividades físicas por uma conversa. Usei a imagem de um cérebro e um aparelho elétrico (ligado na tomada).

 

Utilizei expressões como: “as coisas que sentimos na pele são informadas ao nosso cérebro através de fiozinhos como estes aqui dos aparelhos elétricos. Para sentir que algo está queimando nossa pele, vários fiozinhos, mais fininhos que nosso cabelo, vão se ligando no caminho até chegar aqui”. E eu mostrava a região cerebral (Texto Primeiro Sucesso de Inclusão….) responsável por esta sensação.   https://inclusaopositiva.com.br/primeiro-sucesso

 

“Com a T.X.V., por exemplo, na hora que ela foi nascer, o médico demorou para conseguir retirá-la da barriga da sua mãe. Talvez, por isso, essa parte aqui do cérebro tenha ficado sem ar (sem oxigênio), por um tempo e fez uma lesão, como se fosse uma cicatriz aqui na pele.”

 

Apresentei uma cicatriz em meu corpo, mostrando que a pele neste local fica diferente. E continuei: “Assim acontece com o cérebro. Ele fica ‘machucado’ neste pedacinho e/ou em outros. O menino ou menina não consegue aprender a ler, escrever, levantar pernas para caminhar, mexer um braço ou os dois. Tem vários tipos de lesões, depende em qual parte do cérebro ficou a  ‘cicatriz’.”

 

“Tem vez que a pessoa demora a aprender algo, e tem vez que não consegue de jeito nenhum porque o ‘machucado’ foi muito grande”.

 

“Com o R.G.D. toda vez que a mãe dele chegava ao hospital para ter o bebê, os médicos diziam que era para voltar para casa porque ainda não estava na hora de nascer. Então, como demorou muito para eles ajudarem o R.G.D. nascer, quando ele foi retirado da barriga da mãe já estava com algumas ‘cicatrizes’ no cérebro. Não era só uma ‘cicatriz’, eram várias aqui, aqui, ali e, por isso, ele não consegue engolir a saliva, fica com a cabeça 'caidinha', os braços e as pernas não conseguem mexer, e precisa usar fralda mesmo depois de adulto.”

 

E eles me perguntaram: “Mas por que os médicos não ‘tiraram ele’ antes de fazer cicatriz?”. Respondi: “Eles devem ter se enganado ao mandar a mãe para casa. Mas, agora, ficou difícil porque poucos movimentos foram possíveis melhorar depois dos vários tratamentos que o R.G.D. fez”.

 

“As pessoas que possuem estas ‘cicatrizes’ ficam com Paralisia Cerebral, ou seja, é uma parte do cérebro que sofreu uma paralisia (‘cicatriz’)”.

 

E desta forma, fui explicando caso a caso, numa linguagem bem cuidadosa, cheia de metáforas para facilitar a compreensão e não prejudicar o emocional.

 

Fiquei muito contente com o resultado! Eles ouviam atentos e faziam perguntas interessantes. Assim, construímos juntos uma forma alternativa de aprendizagem, satisfazendo a necessidade emocional que esta turma tinha de saber “Por que sou assim?”.

 

A partir desta aula, os alunos aquietaram seus corações e pensamentos. Foi interessante porque somente dois elaboraram mais algumas questões nos dias que estiveram em casa, refletindo a respeito. Na aula seguinte, respondi às novas dúvidas e toda a ansiedade das semanas anteriores se foi, como num passe de mágica.

 

E mais uma vez aprendi com eles: perguntas são para serem respondidas. Simples assim...

 

Ah, retomando o início desta história...

A minha resposta para o aluno adulto foi: “Sim, minha mãe sabe que vou trabalhar com vocês e está muito contente porque faz alguns anos que eu estava tentando vir para cá. É um sonho que estou realizando! Adoro pessoas como vocês!”.

 

Posso sugerir?

Como se fala muito em inclusão nos dias de hoje, seria interessante que professores de escolas comuns explicassem durante os estudos sobre o corpo humano, quais as causas e características dos diferentes tipo de deficiências. 

 

Durante os estudos  sobre cidadania, caberia trabalhar o preconceito.

 

Creio que desta forma, professores e alunos de escolas comuns estariam mais preparados para receber colegas com deficiência em suas turmas, seja em 2014, ou nos anos seguintes.
 

Arquivo: novembro 2013

 

 

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